quarta-feira, 2 de julho de 2014

Europa - terra de tribus

HelenaMatos

Europa, terra de tribos

Autor
Fazer da construção europeia a caminhada para um admirável mundo novo, onde os símbolos e as funções dos pretéritos estados perdem relevância, enfraquecendo-os, fará da Europa um território de tribos
Em Espanha, o novo rei terminou o seu discurso de investidura saudando em castelhano, basco, catalão e galego. O gesto não foi suficiente para que os líderes dos governos basco e catalão, Iñigo Urkullu e Artur Mas, presentes na cerimónia, aplaudissem o novo monarca: os seus braços imóveis impressionavam tanto ou ainda mais que a longa ovação prestada a Felipe VI pelos outros governantes, deputados e dirigentes que assistiam à cerimónia.
Artur Mas prepara um referendo independentista na Catalunha e Urkullu faz contas aos resultados que uma tal iniciativa poderia ter no País Basco e também às reservas de gás de xisto aí existentes e que, a serem exploradas, farão do rico País Basco ainda mais rico, o que quer dizer mais nacionalista pois em Espanha os nacionalismos têm uma forte componente de proteccionismo económico.
Como de costume nos actos solenes, o hino de Espanha foi tocado mas não cantado porque os espanhóis não se põem de acordo no que à respectiva letra respeita – porque não é laica, porque tem referências bélicas, porque pode ser interpretada como franquista ou qualquer outra coisa acabada em “ista”… E portanto alguns mexem os lábios e os outros nem isso.
Depois, naturalmente, os mesmos espanhóis escrevem parágrafos emocionados sobre o fervor patriótico dos brasileiros que apesar de a FIFA ter imposto versões abreviadas dos hinos no Mundial fizeram questão de, mesmo sem música, cantar até ao último todos os versos do seu muito bélico, nacionalista e religioso hino que, em cima de tudo isso, é gigantesco e tem expressões maravilhosas como “raios fúlgidos”.
Em França, o sonho da multiculturalidade transformou-se num pesadelo para patrões, trabalhadores, empresas, vizinhos… Casos como os dos candidatos à habitação social que apresentam queixa por serem identificados etnicamente mas que depois também se queixam por os mesmos serviços não promoverem a diversidade étnica ou as mulheres que nunca usaram lenço na vida mas que na hora de se despedirem resolvem passar a usá-lo para depois alegarem despedimento por discriminação, como sucedeu na creche Baby Loup, confrontam quotidianamente a França com a imagem de um país a braços com uma crise muito mais profunda que a económica.
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