quarta-feira, 7 de março de 2012

Prefácios à edição elamã e japonesa da obra de Keynes

PREFÁCIO À  EDIÇÃO  ALEMÃ
Alfred Marshall, cujos Princípios de Economia constituem a obra fundamental na formação de todos os economistas ingleses contemporâneos, teve um cuidado especial em destacar a continuidade existente
entre o pensamento dele e o de Ricardo. Sua obra em grande parte consistiu em enxertar o princípio marginalista e o princípio da substituição na tradição ricardiana; e sua teoria da produção e do consumo
como um todo, ao contrário de sua teoria da produção e da distribuição de um dado montante da produção, nunca foi exposta separadamente. Não estou seguro de que ele mesmo sentisse a necessidade de tal teoria.
Mas seus sucessores imediatos e seguidores certamente a colocaram de lado e aparentemente não sentiram sua falta. Foi nessa atmosfera que me formei. Eu mesmo ensinei essas doutrinas e foi só na última
década que passei a ter consciência de sua insuficiência. Em meu pró-prio pensamento e desenvolvimento, portanto, este livro representa uma reação, uma transição no sentido de me afastar da tradição clássica
(ou ortodoxa) inglesa. A  ênfase que dou nas páginas seguintes a isso e aos pontos em que divirjo da doutrina tradicional tem sido considerada por alguns, na Inglaterra, como indevidamente controversa. Como pode,
porém, alguém que foi educado como católico em termos de economia inglesa, um sacerdote mesmo dessa fé, evitar um pouco de ênfase controversa logo quando se torna protestante? Imagino no entanto que isso pode ser percebido pelos leitores alemães de uma forma ligeiramente diferente. A tradição ortodoxa,
 de pensamento entre os economistas alemães que contestaram fortemente a adequação da teoria clássica  à análise dos acontecimentos contemporâneos. Tanto a escola de Manchester como o marxismo em
última instância derivam de Ricardo — conclusão que só surpreende ao nível superficial. Mas na Alemanha sempre tem existido um amplo setor da opinião que não aderiu nem a uma nem ao outro.
Dificilmente se pode afirmar, contudo, que essa escola de pensamento tenha elaborado um arcabouço teórico rival, ou que tenha sequer tentado fazê-lo. Ela tem sido cética e realista, contentando-se
com os métodos e resultados históricos e empíricos, que dispensam a análise formal. A argumentação não ortodoxa mais importante em termos de linha teórica foi a de Wicksell. Seus livros podiam
ser encontrados em alemão (não o podiam, até há pouco, em inglês); de fato, um dos mais importantes deles foi escrito em alemão. Seus seguidores, porém, eram principalmente suecos e austríacos, sendo
que estes  últimos combinaram as idéias dele com teorias especificamente austríacas, de forma a encaminhá-las, realmente, de volta para a tradição clássica. Assim a Alemanha, bem ao contrário de
seus hábitos na maior parte das ciências, contentou-se por todo um século em ficar sem uma teoria formal de Economia que fosse predominante e geralmente aceita. Talvez, portanto, eu possa esperar menos resistência por parte dos leitores alemães do que dos ingleses ao oferecer uma teoria do emprego e da produção como um todo que diverge em aspectos importantes da tradição ortodoxa. Mas posso esperar vencer o agnosticismo econômico da Alemanha? Posso convencer os economistas alemães de que os métodos de análise formal têm uma contribuição a dar  à interpretação dos acontecimentos contemporâ-
neos e à formulação das políticas contemporâneas? Afinal, é alemão gostar de teorias. Como os economistas alemães devem se sentir famintos e sedentos depois de ter vivido todos esses anos sem teoria!
Certamente vale a pena eu tentar. E se eu puder contribuir com algumas migalhas para a preparação, por parte dos economistas alemães, de uma lauta refeição de teoria destinada a fazer frente às condições específicas da Alemanha, ficarei satisfeito. Confesso que a maior parte do que este livro exemplifica e expõe se refere às condições existentes nos países anglo-saxões. No entanto a teoria da produção como um todo, que  é o que o livro propõe expor, seria muito mais facilmente adaptada às condições de um Estado totalitário do que a teoria da produção e distribuição de um volume dado em condições de livre-concorrência e uma ampla dose de laissez-faire. A teoria das leis psicológicas referentes ao consumo e  à poupança, a influência das despesas baseadas em empréstimos sobre os preços e os salários reais, o papel
de juros — todos esses elementos permanecem como ingredientes necessários em nosso esquema de pensamento.
Aproveito a oportunidade para expressar meus agradecimentos desempenhado pela taxa desempenhado pela taxa pelo excelente trabalho de meu tradutor Herr Waeger (espero que o vocabulário organizado por ele que aparece no fim do volume
26
 deOS ECONOMISTAS
32
26 Não incluído na presente edição. (N. do E.)monstre ser de utilidade que transcenda seu propósito imediato) e a
meus editores, Srs. Duncker e Humblot, cuja iniciativa tem-me permitido manter contato com os leitores alemães desde quando, há dezesseis anos já, publicaram meu livro  As Conseqüências Econômicas
da Paz.
J. M. Keynes
7 de setembro de 1936
KEYNES
33PREFÁCIO À  EDIÇÃO  JAPONESA
Alfred Marshall, cujos Princípios de Economia constituem a obra
fundamental na formação de todos os economistas ingleses contemporâneos, teve um cuidado especial em destacar a continuidade existente entre o pensamento dele e o de Ricardo. Sua obra em grande parte
consistiu em enxertar o princípio marginalista e o princípio da substituição na tradição ricardiana; e sua teoria da produção e do consumo como um todo, ao contrário de sua teoria da produção e da distribuição
de um dado montante da produção, nunca foi exposta separadamente. Não estou seguro de que ele mesmo sentisse a necessidade de tal teoria. Mas seus sucessores imediatos e seguidores certamente a colocaram
de lado e aparentemente não sentiram sua falta. Foi nessa atmosfera que me formei. Eu mesmo ensinei essas doutrinas e foi só na última década que passei a ter consciência de sua insuficiência. Em meu pró-
prio pensamento e desenvolvimento, portanto, este livro representa uma reação, uma transição no sentido de me afastar da tradição clássica (ou ortodoxa) inglesa. A  ênfase que dou nas páginas seguintes a isso
e aos pontos em que divirjo da doutrina tradicional tem sido considerada por alguns, na Inglaterra, como indevidamente controversa. Como pode,porém, alguém que foi educado na ortodoxia econômica inglesa, que
de fato chegou a ser sacerdote dessa fé, evitar um pouco de  ênfase controversa logo quando se torna protestante?
Talvez os leitores japoneses, contudo, nem exijam minhas investidas contra a tradição inglesa e nem resistam a elas. Estamos bem conscientes da ampla escala em que as obras econômicas inglesas são lidas no Japão, mas não estamos tão bem informados quanto à opinião que os japoneses têm delas. O recente e louvável empreendimento do Círculo Econômico Internacional de Tóquio de reimprimir os Princípios de Economia Política de Malthus como o primeiro volume da Série de Reproduções de Tóquio encoraja-me a pensar que um livro que descende desempenhado pela taxa de Malthus mais do que de Ricardo possa ser recebido com simpatia pelo menos em alguns setores.
35De qualquer forma, agradeço ao Economista Oriental por possibilitar meu contato com os leitores japoneses sem a desvantagem extra de uma língua estrangeira.
J. M. Keynes
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